MASP RENNER

Arte na moda: MASP Renner

NO MARTINS + ANGELA BRITO

 O artista No Martins (São Paulo, Brasil,1987, vive em São Paulo) e a estilista Angela Brito (Santa Catarina de Santiago, Cabo Verde, 1974, vive no Rio de Janeiro) partem de suas vivências pessoais para discutir temas como histórias, divisão de poder e sistemas raciais. Martins produz pinturas e objetos que narram as experiências de jovens negros no mundo contemporâneo, enquanto Brito cria peças de alfaiataria marcadas pela assimetria, um aspecto recorrente no vestuário cabo-verdiano, país natal da estilista. Eles confeccionaram três roupas que se complementam por suas formas e cores, alternando preto e branco, concavidades e convexidades. Baseados em elementos do jogo de xadrez, como a síntese geometrizada das figuras, os looks também abordam uma série de referências africanas, desde as divindades egípcias até os adornos dos povos Akan, de Gana, além da música e de outros adornos da cultura contemporânea. 

Isso se reflete, em especial, no emprego de aplicações douradas, bordadas na parte superior e nos chapéus dos looks. Para a dupla, a referência ao xadrez implica tanto elementos gráficos, como as cores e as formas que são traduzidas para as roupas, quanto metáforas de hierarquias sociais, disputas de poder e estratégias de ocupação do território. Assim, essas roupas contrastam a busca de Brito e Martins pela preservação de suas memórias e origens com uma fina camada de crítica social e política.
A Coleção MASP Renner reúne roupas únicas criadas em colaboração por artistas e estilistas contemporâneos brasileiros especialmente para o acervo do MASP. O projeto de criação das peças durou três temporadas, entre 2017 e 2022, e envolveu três curadoras adjuntas de moda no Museu—Patricia Carta, Lilian Pacce e Hanayrá Negreiros— e 26 duplas de artistas e designers de moda, resultando em 78 trabalhos, aqui apresentados pela primeira vez. Trata-se de um acervo muito especial que está conectado com outro no Museu, a Coleção MASP Rhodia, que reúne roupas produzidas em colaboração por artistas e costureiros brasileiros nos anos 1960. Naquela década, a indústria química francesa Rhodia realizava desfiles-espetáculos no país para promover seus tecidos sintéticos e encomendava as peças a seus criadores, refletindo as tendências correntes da arte e da moda. A Coleção MASP Rhodia inclui 79 looks, doados ao museu em 1972, e foi exposta no Museu em 2015.

Foi a partir desse acervo único que o MASP pensou em expandir sua coleção, convidando artistas e estilistas que atuam no cenário atual para colaborarem de forma inédita. O conjunto resultante abrange uma variedade de temas e modelagens, que vão desde questões de gênero, sexualidade, religiosidade e sustentabilidade até os impactos da pandemia da Covid-19 no vestuário (como o uso de máscaras faciais), assim como a ideia da roupa como um veículo de manifestação política, em formas e silhuetas que variam das minimalistas às maximalistas, de peças multicoloridas a outras mais sóbrias e conceituais.

Embora seja marcada pela diversidade de assuntos e soluções formais, podemos identificar pelo menos quatro modos de operar dessas duplas na construção das roupas: as que transpõem imagens do ou da artista para modelagens características do ou da estilista; aquelas que testam os limites entre roupa e escultura; outras que discutem a roupa como um código de gênero ou religiosidade; e, por fim, as que questionam as definições e os limites conceituais do que é uma roupa. Acima de tudo, o conjunto nos fala sobre as possibilidades de colaboração e diálogo entre arte, moda e design, colocando o Museu como um agente fundamental para estimular, colecionar, pensar e expor novos trabalhos, conectando áreas de criação tão próximas.

Arte na moda: MASP Renner é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Leandro Muniz, curador assistente, MASP, a partir da Coleção MASP Renner, que teve três curadoras adjuntas de moda no Museu ao longo de suas três temporadas: Patricia Carta, Lilian Pacce e Hanayrá Negreiros. O título da coleção faz referência ao patrocinador do projeto, a Renner, empresa brasileira de roupas e acessórios fundada em 1922, que ao longo dos anos nos possibilitou realizar este ambicioso projeto.