Criola Release
Na coleção CRIOLA, Angela Brito mergulha nas múltiplas identidades que surgem dos encontros entre povos no Atlântico, revelando um arquipélago cultural interconectado que desafia noções universalizantes. A coleção explora a complexidade da crioulização, que vai além da simples mistura e miscigenação para refletir uma dinâmica de relação contínua e adaptações culturais em resposta à colonização. Através das línguas crioulas e das expressões culturais formadas pela experiência colonial, CRIOLA celebra a constante reinvenção e transformação das identidades e realidades culturais.
Há uma opacidade intencional em CRIOLA, uma recusa ao olhar que tenta simplificar ou categorizar. Cada peça da coleção é uma expressão desse processo, onde as tradições se mesclam com o inesperado. A renda de dedo, ou redendê, artesania comum na região nordeste do Brasil, o pánu di téra tradicional caboverdeano feito no tear, e as novas texturas criadas a partir do trabalho manual do capitonê expressam uma identidade que carrega as marcas de um passado vivo, mas que se mantém aberta ao futuro. Os tecidos de algodão, cânhamo, seda e viscose, em tons de bege, verde, marrom e pitadas de azul, evocam a terra seca de Cabo Verde e sua insularidade, refletindo tanto um sentido de lugar quanto de movimento, como a areia espalhada pelo vento.
Uma série de peças da coleção apresenta acoplamentos e fusões com o vestuário, criando uma dança entre os acessórios e a roupa. Dispositivos de carregamento, enchimentos e deformidades, inspirados no bombu mininu — uma amarração tradicional de Cabo Verde usada para carregar crianças — evocam a capacidade de transportar no próprio corpo as bagagens da história e da cultura, manifestando essa herança africana de maneiras inesperadas e criativas no design contemporâneo da coleção.
CRIOLA não é apenas uma coleção, mas um convite a entender que as identidades não são fixas nem totalmente compreensíveis. Elas são fluídas, complexas e, em sua opacidade, guardam a beleza do mistério e da multiplicidade. ngela Brito celebra a crioulização como uma dança entre o visível e o invisível, entre o passado e o futuro, onde a verdadeira essência está na relação, na transformação contínua e na resistência a ser totalmente desvendada, um processo sem fim, sempre gerando novas formas de ser e de estar no mundo.