Identidade Release
IDENTIDADE
Duas histórias se entrelaçam como os fios trabalhados pelo tecelão em seu tear. Cabo Verde e o Panu di Terá. Essa arte manual faz parte da identidade cabo-verdiana e onde o tecelão local carrega em mãos o poder de recriar a tradição e contar a história das ilhas de geração pós geração.
O tecido, que servia como moeda de troca valiosa em tempos coloniais, se viu ressignificado no processo da luta pela independência de Cabo Verde. É carregado como símbolo de resistência de seu povo, dentro e fora do território insular, para aqueles filhos e filhas da terra que se lançam no devir diaspórico e para aqueles e aquelas que ficam.
“Até mais! Leve contigo meu panu di terá, para aquecer os momentos em que precisar se vestir de ilha, pois a lã grudada ao corpo tem o poder de ativar as memórias do lugar de origem, da sensação morna, do vento e do sal na pele.”
A terra é substância, o mar é sobrevivência. O mar de onde se retira o alimento é o mesmo que leva o filho, o irmão, a prima, e deixa com saudade a mãe, a tia e a avó. O além-mar separa e aproxima em pensamentos, na diáspora onde o panú di terá se exila.
Espaço isolado. O continente parece um tanto distante de se alcançar, portanto faz-se necessária a invenção de uma forma autêntica de ser.
A família se alarga em diversos territórios, mas o reencontro é sempre o motivo do retorno para casa. A volta é aguardada com amorosidade, para quem vai e para quem fica. O exílio se conecta ao retorno, consistindo na própria busca volátil pela identidade.
Na coleção IDENTIDADE, Angela Brito se refugia em seu incessante estado de deslocamento, seu movimento cíclico de retornar ao ponto origem, revisitar suas continuidades e construir projeções de si como produto da diáspora. Imagina-se pedaço vivo de sua terra e de cada lugar no qual se estabeleceu. Angela buscou parceria com o artesão caboverdiano Antônio Garcia (Santinho), que mantém viva a tradição do Panu di Terá em seu país, a fim de valorizar a autonomia da economia local na colaboração com seu design vanguardista. A arte feita à mão por seu conterrâneo mescla-se com seus próprios sentimentos e percepções sobre identidade.
Nesta coleção, Angela Brito explora a essência como um devir contínuo, abarcando conceitos subjetivos sobre africanidade, diáspora e futuro. O panu di terá conduz a narrativa da coleção através de texturas impressas pelo próprio tear no tecido. Angela revisita o seu formato tradicional, de padronagem preto e branca e gramatura densa, e o transforma, a partir de seu olhar vanguardista, no reflexo de sua modernidade.
A coleção preserva a autenticidade do algodão sustentável como base de sua construção. Tons de azul, verde e laranja se mesclam com as cores preto, branco e off-white - já familiares às criações de Angela.
Pirciengs e colares ajustáveis, pulseiras, brincos e tornozeleiras banhados em prata remontam a ancestralidade e elegância de adornos tradicionais ao redor do continente africano, e se fundem à estética caótica das grandes metrópoles ocidentais de forma emblemática em IDENTIDADE.
Há uma busca por um sentido universal e democrático nas formas, que se enquadram quase sempre no evasê, em formato "A". As pregas, babados e plissados criam camadas sobrepostas no design, ora mais secas, ora mais amplas. Os zíperes de detalhe metálicos, os desfiados e espaçamentos recriam o tradicional a partir do diálogo com a vanguarda, imprimindo na coleção uma experiência sensorial autêntica.